As chuvas que caem na Bahia, no Nordeste, no Rio de Janeiro, no Brasil, inundando ruas, derrubando casas, aumentado os buracos das pistas, matando pessoas e proliferando doenças, revelam também o grau de descaso com o saneamento básico, com a qualidade da água, com a Vida. Das enxurradas descem toneladas de resíduos sólidos dos mais variados: plásticos, papel higiênico, restos de comida, papelão, vidros, alumínio, madeira, entre outros caracterizados como “lixo”, ampliando o leque de problemas à saúde, deslocamento da população, incremento da economia e desestrutura familiar. È imenso, incalculável, o volume de coisas que ainda jogamos fora, em qualquer lugar, sem nenhum critério de reutilização, racionalidade no uso e reuso transformando- os em lixo, que, nas chuvas, acabam boiando aos nossos olhos incrédulos, ou soterrados, junto a corpos humanos, proliferando dor.
A falta de manutenção dos esgotos, das galerias da rede subterrânea de água, associada ao desmatamento das encostas e à falta de coleta seletiva dos resíduos, até mesmo em unidades hospitalares, aumentam os riscos à saúde da população. Os recursos gastos com o tratamento de doenças provocadas pela falta de saneamento, de políticas ambientais preventivas, moradias em encostas, medidas emergenciais e paliativas, revelam uma filosofia dissonante com as necessidades atuais de preservação da vida no planeta. É inadmissível como o Governo, empresas e sociedade em geral, ainda não executam ações previamente planejadas com o rigor, a urgência e a correlação entre custos e benefícios, necessários para minimizar os efeitos de fenômeno naturais como ventos e chuvas fortes, cujas previsões poderiam servir como alertas.
A existência de lixões, a falta de ações de prevenção, com educação ambiental massiva, são problemas graves para aceitar discursos que banalizam a expressão sustentável. Problemas ambientais de um Brasil que ainda não tem a aplicação de uma política nacional limpa sobre resíduos sólidos. O fato é que milhões de pessoas, na sua maioria crianças e idosos, pobres, estão morrendo. Conforme estudos da ONU a diarréia, provocada por falta de água limpa, mata mais crianças na América Latina do que a tuberculose ou o HIV/AIDS. O alerta de que milhões de meninos e meninas, sobretudo indígenas e afro-descendentes, estão em perigo, e que a diarréia é somente uma das doenças da extensa lista resultante da falta de qualidade da água, parece não ter sensibilizado técnicos responsáveis pelos programas, que com certeza, recebem volumosos recursos, mal utilizados.
Essa política não integrada, de visão estreita sobre sustentabilidade como fator resultante de comportamentos preventivos, cuidadosos, harmoniosos, racionais, menos consumistas, está levando cientistas sociais para uma posição pessimista com relação ao futuro próximo. Se as crianças, que representam a esperança de construção desse paradigma sustentável, estão morrendo de doenças preveníveis, como doenças respiratórias, dengue, leptospirose, gripes, infecção intestinal por injeção de água suja, entre muitas outras que poderiam ser evitadas, o futuro não pode ser animador. Informe sobre Desenvolvimento Humano, divulgado, anualmente , pelo PNUD, desde 1990, enfatiza que investir em água e saneamento salvaria milhões de vidas, com agregação de valor econômico. O acesso universal a serviços de água e saneamento reduziria a carga financeira dos sistemas de saúde nos países em desenvolvimento em cerca de US$ 1,6 bilhão ao ano.
Liliana Peixinho* – Jornalista, ativista sócioambiental, fundadora dos Movimentos Independente AMA – Amigos do Meio Ambiente e RAMA – Rede de Articulação e Mobilização em Comunicação Ambiental
sexta-feira, 16 de abril de 2010
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